quarta-feira, 24 de janeiro de 2007


Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
 
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem
 
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.
 
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
 
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
 
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.

- António Gedeão -


Pois, é mesmo assim que me sinto hoje... só, irremediavelmente só...
Apesar de toda a gente que tenho próximo de mim, e que enchem os meus dias com tudo o que de bom existe, sinto-me só... aqui, no meu cantinho, como se não estivesse ninguém à minha volta.
Resta-me encher-me... sentir o meu sentimento e aprender a lidar com ele, porque mais ninguém o consegue sentir como eu!

1 comentário:

Ana disse...

Guida!

Não tava informada da existência deste blog... Vou passar muitas mais vezes! ;)

Um beijo grande*
Ana Rocha